Fala galera, ja falei que turista sofre?
Hoje vamos passar um fim de semana em Bruxelas, aprender que não se deve dirigir na cidade, vamos cancelar todos os planos, não iremos à Cantillon, mas nem tudo está perdido, conhecemos o Delirium Café e no final zeramos a vida mais uma vez na Bosteels.
Continuando o post anterior, saímos da Bierhalle sentido Bruxelas. Viajamos pelas auto estradas e aos poucos a cidade em volta foi crescendo, mais carros, mais movimento. Alguns túneis na cidade facilitam chegar no centro, mas não diminuem o movimento. Era sábado de manhã, frio e chuviscava. Chegamos na Boulevard Anspach, que é uma grande avenida no centro e localizamos nosso hotel, o Aparthotel Adagio Brussels Centre Monnaie. Esse hotel é parte da rede Accor e é muito bem localizado, no centro de Bruxelas. Os quartos são pequenos apartamentos, com cozinha equipada, fogão, forno, TV grande, escrivaninha… e aquelas camas de filme americano que dobram na parede. Quarto legal, bonito, só tenho elogios para fazer, tirando que tivemos que pedir para trocar de quarto porque o primeiro que nos deram era com 2 camas de solteiro e eu reservei uma de casal. Pagamos 62,40 euros a diária, com impostos inclusos. Eles não possuem estacionamento, então tivemos que deixar em um estacionamento público de 15 euros por dia.
Mas antes de estacionar e fazer check-in no hotel, decidimos colocar o endereço da Cantillon (Rue Gheude 56, Anderlecht) no mapa e tentar conhecer a famosa cervejaria. Muito, muito trânsito até lá. Fiquei realmente estressado de dirigir em Bruxelas e o pior foi quando chegamos na Cantillon, não havia lugar para estacionar e o local parecia fechado.
Decidimos voltar pro hotel. Depois de muitas e muitas voltas estávamos novamente na avenida Anspach procurando algum lugar para deixar o carro. Conseguimos finalmente achar um estacionamento na Gare de Bruxelles-Congrès (Station Congres), que fica à 1 km do hotel. Difícil descer as ladeiras de Bruxelas com calçadas e ruas de paralelepípedo carregando 3 malas grandes e uma mochila no meio de tantos turistas.
Complicado, mas enfrentamos o frio e o vento e chegamos no hotel. Descobrimos que existe outro estacionamento pertinho do hotel, mas agora era tarde. Depois de fazer check-in e ainda trocar de quarto pudemos finalmente descansar um pouco. Turista sofre!!!
Um tempo depois conseguimos nos animar e saímos para dar uma volta. Chegamos na famosa Grand Place e ali fiz o pedido oficial de casamento pra Taíse, que aceitou e agora passamos a ser noivos!!! Foi um momento muito especial, que ficará marcado na nossa história.
Saindo de lá fomos conhecer o Maneken Pis, que é uma estátua de um menino fazendo o número 1 e que está por tudo na cidade e lojas de souvenires. É bem decepcionante se esbarrar com centenas de turistas pra chegar lá e descobrir que ele deve ter uns 40 cm de altura. O Maneken Pis é bem pequeno! A sorte foi que naquele dia estava acontecendo alguma comemoração ou evento de algo local e vestiram o menino com uma roupa especial. De vez em quando eles o vestem com uma roupa diferente pelo que andei pesquisando.
Não estávamos no clima de andar muito, então comemos um waffle e passamos em um mercado. Compramos pão, presunto das Ardenas, queijo, patê de pepino e de salmão, aspargos e fomos para o hotel. Esse foi o nosso jantar e estava bom demais! Ainda mais acompanhado de uma DeuS para comemorar o noivado. Foi a primeira vez que provamos a mítica cerveja e aprovamos. Muito manjericão no aroma, carbonatação bem alta como um champagne, seca, muito boa!
No dia seguinte o tempo estava mais feio ainda. Muito vento, muita chuva, perfeito pra ficar dormindo e foi o que fizemos. Só nos animamos a sair no início da tarde e descobrimos que estava rolando um protesto na avenida na frente do hotel. Não entendemos o motivo e saímos em busca do elefante rosa.
Antes de chegar aonde queríamos, visitamos a Galeria da Rainha (Les Galeries Royales Saint-Hubert), famosa galeria coberta cheia de lojas de joias, chocolates e restaurantes. Muito bonita, vale a visita, ainda mais porque o Delirium Café é bem perto dali.
Dica: vá até a metade da galeria, onde ela cruza com uma rua estreita cheia de restaurantes. Entre ali, e alguns metros à direita estará a Delirium Village.
A Delirium Village é uma rua sem saída com diversos bares da marca: Delirium Taphouse, Little Delirium Café, Delirium Café, Delirium Café Hoppy Loft, Delirium Monasterium, Floris Garden, Floris Bar e Floris Tequila. O Taphouse é um bar só com cervejas On-Tap. O Hoppy Loft é um terraço em cima do Taphouse de cervejas lupuladas, mas estava fechado no dia que fomos. O Delirium Café é o mais famoso de todos por ter o recorde mundial de rótulos: 3162! Para mais informações sobre os outros bares, fica aqui o link.
Entramos naquele que achávamos que era o Café, mas depois de ver a pouca opção de cerveja no lugar (pouca comparado com o esperado de mais de 3 mil), começamos a achar estranho. De qualquer forma, tomamos uma cerveja on-tap cada (Campus Premium para mim e Viven Master IPA para a Tai).
Descobrimos que estávamos no Taphouse! O Delirium Café mesmo fica no subsolo do Taphouse. A planta é mais ou menos assim: Café no subsolo, Taphouse no térreo e Hoppy Loft no terraço.
Descemos a escada e chegamos em mais uma sucursal do éden! O Delirium Café é bem amplo, com decoração cervejeira por tudo, até no teto (cheio de bandejas de cerveja), um bar grande e movimentado e mesas, algumas feitas de barril. Conseguimos sentar numa dessas mas demoramos até conseguir pegar um cardápio.
O cardápio deles é uma atração à parte. Parece uma lista telefônica. Tem muita cerveja MESMO. Não tem como decidir o que beber, quero uma de cada! Está tudo à venda, inclusive o próprio cardápio, por 5 euros. Decidimos finalmente e para compensar não ter ido na Cantillon, pedi uma Bio Lambic deles, uma Lambic orgânica. A Tai começou com uma Paix-Dieu da Abbaye Cistercienne. Ambas estavam sensacionais! Depois dessas pedimos um salame especial para comer e fechamos a tarde com uma Brigand e uma Malheur 8.
Agora a fome bateu de verdade e na volta pro hotel descobrimos na frente dele um Chi-Chi’s, rede de restaurantes mexicanos. Pedi um hambúrguer e a Tai uma quesadilla e estavam bons demais! E ainda descobri no cardápio que tinha Ommegang Charles Quint – Keizer Karel, que acompanhou muito bem meu burguer.
O dia seguinte amanheceu com tempo melhor. Já era 2a feira e fomos tentar a sorte na Brouwerij Bosteels (Kerkstraat 96, Buggenhout), cervejaria que faz algumas das preferidas da molecada: Tripel Karmeliet, Pauwel Kwak e DeuS. A cervejaria fica na cidade de Buggenhout (30 km) e é praticamente no caminho entre Bruxelas e Antuérpia.
Não recomendo fazerem o que vou relatar a seguir. O melhor mesmo é mandar email (info@kwak.karmeliet.be) e agendar uma visita da forma correta. Mas eu havia esquecido de fazer isso e como não tinha loja nem nada na frente da fábrica, toquei o interfone. Expliquei que éramos brasileiros e viemos para conhecer a cervejaria, ou pelo menos só comprar um souvenir.
Logo veio alguém nos receber, mesmo sendo meio-dia. Ele nos explicou que deveríamos agendar a visita, mas que por sorte havia um grupo belga (da parte francesa) fazendo uma excursão e ele iria ver se poderíamos nos juntar a eles. Apareceu uma senhora, velhinha, e ficou a li por perto. O cara que estava nos atendendo logo voltou e pediu para irmos com ele. A senhorinha veio atrás. No caminho fomos apresentados rapidamente a um senhor já também de mais idade e seguimos pela fábrica.
Encontramos o grupo da excursão na hora em que estavam nas câmaras de refermentação da Tripel Karmeliet (trí-pôl kár-mê-lít e não tripél karmêliê). Mas não ficamos ali com eles. O grupo partiu para o final do tour e a senhorinha nos pegou pelo braço e nos levou para um tour particular. Passamos por partes em que o grupo não pode, pelo número de pessoas. A máquina de engarrafar (quantas Karmeliets passando por minuto ali!), os tanques de fermentação e chegamos nos tanques de brassagem. Conversamos com dois trabalhadores que explicaram o processo rapidamente e eu pude fazer umas perguntas mais específicas sobre o processo e a cerveja.
Explicando: o senhor de idade que nos apresentaram é Ivo Bosteels, dono da cervejaria. A senhorinha, sua esposa, Mariette Bosteels. E o homem que veio nos receber no portão da fábrica, o filho deles, Antoine Bosteels.
Dona Mariette nos tratou bem demais, muito simpática e atenciosa. Nos levou de volta ao grupo, que agora estava se preparando para provar a Kwak. A D.a Mariette sentou conosco e ao meu lado um belga de 65 anos muito gente boa com quem fiz amizade e dei muita risada (a esposa dele é que ficou braba de ter perdido a atenção dele).
Depois da Kwak, degustarmos a Karmeliet na pressão e fresquinha. Sensacional! O Seo Ivo estava lá na frente servindo de host junto com o funcionário que guiava a excursão e juntos abriram então uma DeuS com o sabre. Foi a primeira vez que vi fazerem isso ao vivo e logo com qual cerveja. Todos degustamos mais uma rodada de DeuS e logo a D.a Mariette voltou com 2 bonés da Tripel Karmeliet. Falou baixinho para mim e para a Tai que era um presente deles, mas que era pra falar que compramos senão a excursão iria ficar com ciúmes.
O evento terminou e após uma conversa rápida com Sr. Ivo, contei a ele que sou cervejeiro caseiro. Ele me deu um conselho que pretendo levar comigo para sempre: “Nunca desista! Nunca esteja satisfeito! Sempre tente melhorar.”
Fomos convidados pelo pessoal do grupo a ir com eles à Bruxelas para almoçar. Não pudemos aceitar, pois estávamos a caminho de Antwerpen (Antuérpia), que fica no sentido oposto.
Se não bastasse tudo de legal que já havia acontecido, a Dona Mariette ainda insistiu em nos pagar almoço. No caminho da saída da fábrica, ela acabou nos levando na casa deles, que fica junto da fábrica, e entramos num hall enorme cheio de quadros dos antepassados Bosteels, antigos donos e fundadores da cervejaria.
Ela então nos levou a um restaurante, mas a cozinha já havia fechado, pois já passava das 14h. Ainda assim conseguimos tomar uma sopa com pão deliciosa. Ela nos deixou lá comendo e voltou para seus afazeres.
Foi demais! Tudo muito surreal. Nunca imaginei que esse dia seria tão especial e que seríamos tão bem tratados, mesmo chegando sem agendar nada, de bicão. De tudo que aconteceu na viagem, como a visita à Westvleteren, ficar hospedado na Chimay, conhecer monges na La Trappe, esse dia foi o que mais gostei. Ali sim que zeramos a vida!
Obrigado a todos que leram até aqui. Esse foi o maior post até então, mas não queria deixar nenhum detalhe, especialmente da Bosteels, de fora.
Partimos para Antwerpen, mas continuo semana que vem.
Valeu!
Trajeto do dia
Cervejas relacionadas
No Aparthotel Adagio Brussels
- DeuS Brut des Flandres (Belgian Strong Ale – Bière Brut)
No Delirium Taphouse
- Huyghe Campus Premium (Pale Lager)
- Viven Master IPA
No Delirium Café
- Cantillon Bio Lambic
- Abbaye Cistercienne Paix-Dieu (Tripel)
- Brigand (Belgian Strong Ale)
- Malheur 8 (Belgian Strong Ale)
No Chi-Chi’s Texmex
- Ommegang Keizer Karel – Charles Quint (Belgian Strong Ale)
Na Brouwerij Bosteels
- Kwak (Belgian Strong Ale)
- Tripel Karmeliet
- DeuS
Caramba… surreal suas “experiências cervejeiras”… de arrepiar! Vou no carnaval (fev 2018) na região. Em Bruxellas dormirei 4 noites (pretendo fazer 2 bate e volta, a Bruges e outro a Gante). O que você acha que consigo conhecer de cervejarias nessas cidades. A principio não pretendo alugar carro. É tranquilo mesmo ir na Bosteels de trem?
Fala Luiz
Não sei como faz pra ir de trem, mas acho que uma pesquisada rápida no maps já te resolve. Lembro que tinha uma parada do trem aonde estacionamos o carro e ficava poucas quadras da cervejaria. Mas sugiro marcar com antecedência a visita, pois você pode não ter a mesma sorte que nós (ainda mais agora que a AB-InBev comprou eles).
Em Bruges e Gent sugiro leres os outros posts da viagem para ver os lugares que fomos.
Bruges: http://beercast.com.br/leia-o-rotulo/turista-sofre-tour-cervejeiro-belgicaholanda-parte-6-bruges/
Gent: http://beercast.com.br/leia-o-rotulo/turista-sofre-tour-cervejeiro-belgicaholanda-parte-7-gent/
Depois que já havíamos voltado recebi umas dicas de outros lugares em Bruxelas que não visitamos:
Le Coq
Monk
Moeder lambic
Daringman
L’Amère à Boire
Quando voltares da viagem venha aqui contar como foi!
Abraço!
Aii adorei o post!!! haha
Realmente mitamos nessa viagem, primeiro o noivado (que foi surpresa), depois a visita surreal na Bostels..
Acho que nem nos nossos melhores sonhos teríamos imaginado o que aconteceria.
Só queria acrescentar que a gente só descobriu o bar phoda da Delirium no subsolo por minha causa, pois eu que resolvi “explorar” o local antes de irmos embora :p hehehe
Verdade, não teríamos achado a Delirium se não fosse pelo seu faro cervejeiro =)
Cara, vejo que dei bobeira no Delirium Café, pois não conheci esse subsolo com sua mítica carta, hahahaha.
Me contentei a tomar uma na pressão na taphouse e depois beber umas garrafas na Delirium Monasterium.
Parabéns pelo texto, ficou um relato tão épico quanto a viagem em si.
Abraço
Fala Alex!
O Monasterium não fui, como é? Cervejas trapistas e de abadia?
Agora já tens motivo pra voltar em Bruxelas, o Café tem que conhecer!
Legal que curtiu o post, logo tem mais.
Abraço
Como disse, em novembro estou indo pra lá, e acabei de colocar a visita na Brouwerij Bosteels no meu roteiro!
Mas você recomendou mandar um email para marcar o tour, e depois desse relato, só tenho vontade é de aparecer lá de surpresa pra ver se conheço o dono também! hahahaha
Abraços e aguardo mais relatos pra colocar no meu roteiro!
Fala Luís
Pois é, foi tão legal com a gente que meu medo era a galera tentar repetir a dose hahaha
Meu medo é queimar o filme dos brasileiros e logo eles não aceitam mais e ponto.
Mas tente ir, é muito legal mesmo, vale a pena. E se fores na Cantillon conta porque fiquei puto de não ter conseguido ir.
Valeu!
Daniel, desta vez eu comecei a ler e achei “Finalmente um relato que não vou ficar com inveja”… mas vc conseguiu não só fazer uma virada no final, mas arrebentar a boca do balão…
Cara, conhecer os donos da cervejaria, ficar batendo papo, ser convidado para almoçar… zerou a vida mesmo.
E não podemos esquecer que foi nesta etapa que você pediu a Taíse em casamento…. épico.
E nem deu para perceber que o texto foi longo… li tudo sem notar o tempo.
Abç
Guzzon
Fala Guzzon!
hahahah pois é, rolou um plot twist hoje, acabou pegando a galera de surpresa.
foi muito épico mesmo… noivado, delirium, bosteels… inesquecível.
Que bom que curtiu!
Abraço
Carai… inveja master nível infinito! Que foda muito muito foda… e olha que pelo começo do post eu ia dizer que o lugar mais frequentado parecia ser o pior, cidade cheia, trânsito, protestos mas esse final valeu por tudo!
Adicionando mais algumas páginas ao guia definitivo da bélgica!
Fala Luquita!
Pois é, a cidade de Bruxelas foi a pior que visitamos. Muitos turistas, muita gente! Até porque coincidiu de ser um fim de semana, o que piora bastante as coisas. Mas o Delirium Café compensa muito, o lugar é bom demais mesmo.
E adicione a Bosteels no roteiro. Dá menos de 30 km de Bruxelas e dá pra ir de trem. Foi legal demais!
Faça logo tua viagem pra que eu possa devolver a inveja hahaha