Nos últimos meses a profissão de Sommelier de Cervejas ganhou bastante exposição devido ao “1º Campeonato de Sommelier de Cerveja do Brasil” promovido pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB) e pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS/SP), que contou com cerca de 150 participantes. O vencedor foi Alexander de Moraes, que trabalha na área de Tecnologia da Informação (TI).
O curso de Sommelier de Cerveja é voltado para pessoas que pretendem trabalhar com a orientação do consumo adequado da bebida, informar corretamente o consumidor, sugerir harmonizações da bebida e gastronomia, para quem deseja empreender ou mesmo para amantes e aficionados pela cerveja!
As primeiras turmas do curso no Brasil iniciaram em 2010 numa parceria entre o ICB e a ABS/SP. No mesmo ano, surgiram os cursos ofertados pela parceria entre o SENAC/SP e a Doemens Academy (Alemanha) e em 2011 surgiu a Science of Beer, que também vem oferecendo cursos para formação de Sommeliers no Brasil.
Mas você já ouviu falar em Cicerone? Não? A palavra Cicerone segundo o dicionário, é a pessoa que guia visitantes ou turistas, mostrando-lhes o que há de importante em uma localidade ou dando-lhes informações que lhes interessem. Mas o que isso tem a ver com cerveja?
O Cicerone é o nome dado ao programa de certificação de profissionais de cerveja, criado em 2009 nos Estados Unidos, por Ray Daniels, membro do Siebel Institute of Technology em Chicago e ex-colaborador do Brewers Association. Este programa de certificação é composto por 3 níveis:
Nível 1 – Certified Beer Server
– É voltado para a armazenagem e serviço de mesa correto da bebida e entendimento básico dos estilos e degustação de cervejas.
– A prova é online e dura cerca de 30 minutos.
Nível 2 – Certified Cicerone
– Já exige um conhecimento mais aprofundado da armazenagem e serviço, identificação de off-flavors, identificação de cervejas por estilos, conhecimentos sobre a história da cerveja e processos de fabricação.
– A prova é presencial e dura cerca de 3 horas além de teste prático de degustação de cervejas.
Nível 3 – Master Cicerone
– Exige um conhecimento “enciclopédico” sobre cervejas, percepções refinadas para degustação de cervejas, ótimos conhecimentos para harmonização com pratos e muita experiência prática.
– A prova é presencial e tem duração de 2 dias, incluindo 8 horas de exame escrito, 2 horas de exame oral e 2 horas de avaliação e degustação de cervejas.
Mas qual a diferença entre um Sommelier e um Cicerone? Segundo Ray Daniels, a palavra Sommelier é específica para os profissionais do vinho e devido à grande quantidade de estilos e complexidade das cervejas ele criou a certificação Cicerone, para diferenciar o profissional do vinha da cerveja. Além disso, Daniels diz que qualquer pessoa pode se auto-intitular um Sommelier de Cerveja e seu programa exige que o candidato tenha um conhecimento mínimo desejado e passe por provas bastante difíceis (segundo consta) para obter as certificações.
Pelas pesquisas que fiz na própria página do Cicerone, existem 7 pessoas certificadas como Master Cicerone, cerca de 1250 Certified Cicerones e mais de 27.000 Certified Beer Servers. Aparentemente, esta certificação já é bastante reconhecida no mercado norte-americano de cervejas, já expandiu para o Canadá e Reino Unido e parece ser uma tendência.
Para o mercado brasileiro, ainda em ascensão e a alguns anos atrás do mercado norte-americano, acredito que o programa Cicerone ainda demore um tempo para desembarcar por aqui. Ainda temos muito chão a percorrer e muitos obstáculos a vencer para emplacar de vez a cultura cervejeira no nosso país. Primeiro, precisamos fazer com que nossa produção de cerveja tenha competitividade e preços mais acessíveis para o consumidor final e na minha visão, a crescente onda de formação de sommeliers deve ajudar a intensificar a divulgação das verdadeiras cervejas e seus diversificados sabores para o restante da população. Quanto mais pessoas estiverem ao nosso lado, mais fácil ficará para conseguir a tão desejada redução tributária para as pequenas cervejarias nacionais.
Até lá, sinceramente acho que não precisamos de Master Cicerones aqui no Brasil… precisamos encarar outros obstáculos antes disso! Para todos os amantes da bebida, caso tenham disponibilidade de tempo e investimento, recomendo fortemente a formação de Sommelier de Cervejas, pois agrega bastante aprendizado cervejeiro.
Eu até entendo o ponto do Ray Daniels de querer diferenciar, pois se você usar apenas o termo “sommelier” (e não sommelier DE CERVEJAS), naturalmente as coisas se voltam muito mais ao vinho. Obviamente, hoje o termo de sommelier de cervejas é muito mais utilizado e já está fixado na cabeça da maioria das pessoas, mas não veria problemas em ver este termo ser substítuido pelo cicerone futuramente, até para diferenciar os dois profissionais (vinho e cerveja).
Quanto à certificação, particularmente acho que é uma iniciativa bastante válida. Como sou da área de TI, onde um profissional é diferenciado através das inúmeras certificações, para mim faz algum sentido em criar uma “método” com exames para testar os conhecimentos e assim diferenciar os profissionais. Sobre ser criado por americanos, também não vejo nenhum problema, afinal são eles os grandes responsáveis pela revolução no mercado cervejeiro das últimas 2 décadas. Admiro muito o espírito que eles tem de ir “a fundo” em tudo o que fazem e acho sim que eles tem total conhecimento e capacidade para ditar os próximos passos do mercado. Temos muito a aprender com eles!
Muito bom o texto Matheus. E não vejo nada de errado com o termo sommelier de cervejas. A acepção de Cicerone parece bem mais inadequado. Mais uma coisa da empáfia americana que sempre vai chamar futebol de soccer.
Anselmo as vezes as pessoas tem uma opiniao sobre alguma coisa sem saber nada sobre o assunto. O americanos revolucionaram o setor cervejeiro nas ultimas decadas( como disse o nosso amigo ai em cima ) e realmente os brasileiros deveriamos aprender com as coisa que derem certo. Moro aqui nos EUA fazem 10 anos e sei como esses caras aqui sao dedicados e encontram sempre uma maneira propria de fazerem as coisas, e posso te dizer que 99% das vezes eh a mais correta. Abre sua mente para a cultura dos outros povos e vc vai aprender muitas coisas boas e ver que o Brasil mais cedo ou mais tarde acaba copiando muitas ideias daqui e de outros lugares.
Fica a dica…
Ah os EUA chamam o football de soccer porque eles criaram um sport e decidiram chama-lo de football.
valeu
Ok Guimarães, vou “open my mind”, obrigado pela valiosíssima dica.
Por nada!
Ótima matéria.
Estou me formando em Sommelier de cervejas pela ABS e desde que fiquei sabendo desse programa de certificação Cicerone fiquei meio com um pé atrás por um motivo, por se tratar de um certificado americano. Não desmerecendo os americanos (mentira, desmerecendo sim) mas eles não tem tanta “bagagem” para criar uma certificação dessa. Acho que isso é mais para eles se sentirem superiores (como sempre fazem) em mais uma área, não duvido nada de que eles um dia inventem que manjam mais de cachaça do que os brasileiros.
Ainda continuo chamando de Sommelier.
Abraços
Muito legal estas informações Matheus, e creio que o primeiro nível até nós aqui do Brasil possamos conseguir, dado que é online.
A única coisa que não concordo muito, e não com sua matéria e sim com a opinião Ray Daniels, é que Sommelier é voltado para vinho… seguindo este preceito etimológico, Cicerone é voltado para turismo… rsrs
Mas entendo que ele tenha que vender o peixe dele….rsrsrs
Mas é sempre bom saber que existem outras iniciativas de se fortalecer o mercado cervejeiro.
Abç
Guzzon
Muito boa matéria Matheus, eu não sabia dessa especialização nos EUA mas conhecia a palavra.
Na vdd eu tinha como Cicerone o conceito de Sommelier mesmo, mas como sendo a palavra em português que ninguém queria usar rs.
Concordo com os pontos que colocou e acho que um dia lá pelos nossos 50 ou 60 anos chegamos a Mestre Cicerones Brasileiros, rs.